Lúpus Eritematoso Sistêmico

Lúpus é uma doença inflamatória crônica autoimune, desencadeada por um desequilíbrio no sistema imunológico, exatamente aquele que deveria proteger a pessoa contra agentes externos, como bactérias e vírus, através da produção de anticorpos. No lúpus, os anticorpos produzidos se ligam a algumas estruturas de nossas próprias células e esses complexos podem depositar-se em diversos órgãos levando à agressão do próprio organismo. Lúpus pode manifestar-se sob a forma cutânea (atinge apenas a pele) ou ser generalizado. Neste caso, atinge qualquer tecido do corpo e recebe o nome de lúpus eritematoso sistêmico (LES).

A causa do lúpus é multifatorial. Fatores genéticos, ambientais e hormonais estão envolvidos no aparecimento da doença. A predisposição genética é fundamental para o desenvolvimento do lúpus; já foram descritos mais de cem genes envolvidos nessa doença. Entre as causas externas, que podem deflagrar a doença em pessoas predispostas, destacam-se a exposição ao sol, o uso de certos medicamentos, alguns vírus e bactérias. O hormônio feminino estrógeno também está associado ao desenvolvimento do lúpus, o que pode justificar o fato de a doença acometer mais as mulheres em idade fértil do que os homens.

Os sintomas são diversos e variam de intensidade dependendo do paciente e do órgão afetado. Podem ser bastante inespecíficos, isto é, assemelhar-se a sintomas também causados por outras doenças como febre, mal-estar, emagrecimento. Por serem sintomas bastante genéricos, o diagnóstico muitas vezes demora a ser feito.

Entretanto, em geral o paciente também apresenta sintomas mais característicos de lúpus. Os mais frequentes são: dores articulares, manchas avermelhadas na pele, vermelhidão no nariz e nas faces em forma de asa de borboleta, sensibilidade exagerada ao sol, feridinhas recorrentes na boca e no nariz.

Outras manifestações podem ocorrer devido à diminuição das células do corpo (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas), inflamação das membranas que recobrem o coração e os pulmões levando a falta de ar, palpitações e dores no peito. Além disso, pode haver também acometimento dos rins (ocorre em 50% dos pacientes), causando sintomas diversos como, por exemplo, inchaço nas pernas e urina espumosa. Raramente o lúpus acomete o sistema nervoso central. Quando isso acontece, psicoses, convulsões ou derrames são as principais manifestações.

Portadoras de lúpus eritematoso sistêmico necessitam programar as gestações para momentos em que haja bom controle da doença e em que estejam utilizando apenas medicações seguras para o feto. Um bom planejamento do melhor momento para engravidar é fundamental para uma gestação segura e de sucesso.

O diagnóstico de lúpus é feito através do reconhecimento pelo médico dos sintomas sugestivos da doença (vide acima) e de exames com resultados alterados. O FAN (fator antinúcleo) é um exame realizado numa amostra de sangue que apresenta resultado positivo em quase todos os pacientes com lúpus; resultado negativo praticamente exclui essa doença. É importante observar que esse exame pode dar positivo em diversas situações – por exemplo, nas infecções – e até mesmo em pessoas saudáveis. Portanto, não podemos dizer que uma pessoa tem lúpus apenas porque seu FAN deu positivo. É necessário considerar a presença de sintomas e a resposta alterada de outros exames característicos para fechar o diagnóstico.

Além do FAN, existem outros exames de sangue que detectam a presença de autoanticorpos (exemplo: anti-DNA) mais específicos do lúpus e que também ajudam no diagnóstico. Entretanto, eles não estão presentes em todos pacientes com lúpus.

Existem recursos terapêuticos que ajudam a controlar as crises e a evolução da doença, pois regulam o sistema imunológico. Como o lúpus apresenta variação de gravidade e de órgãos acometidos, o tratamento deve ser individualizado, focado em cada paciente.
Os antimaláricos (cloroquina ou hidroxicloroquina) são bastante importantes no tratamento, pois evitam que a doença entreem atividade. Os corticoides devem ser utilizados em períodos de maior atividade da doença e a dose varia de acordo com a gravidade. Além disso, quando necessário, o tratamento pode ser feito com imunossupressores (medicações que diminuem a resposta imunológica), tais como a azatioprina, a ciclofosfamida e o micofenolato de mofetila.

Os avanços no entendimento dos mecanismos de doença do lúpus estão favorecendo o estudo e desenvolvimento de novos medicamentos. Os imunobiológicos são medicações que agem em pontos específicos do sistema imunológico e alguns deles já se mostraram eficazes no tratamento do lúpus, quando há indicação médica.

Já está comprovado que alguns cuidados são fundamentais para o controle da doença. Pacientes com lúpus devem evitar a exposição ao sol, aplicar protetores solares de alto poder de proteção mesmo em ambientes fechados e reaplicá-lo sempre ao sair de casa. Sua alimentação deve ser saudável e balanceada, assim como praticar atividade física com regularidade, respeitando as limitações que possam ocorrer durante as crises. Acima de tudo, devem ficar longe do cigarro, que pode piorar a atividade da doença e aumentar o risco de doença aterosclerótica (causadora de infartos e derrames).

Fonte: Site Dr. Dráuzio Varella

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