Simples teste no recém-nascido pode identificar problemas cardíacos congênitos
Um simples teste no recém-nascido, feito nas primeiras 24 horas de vida, é capaz de detectar doenças cardíacas congênitas. Ele chama-se oximetria de pulso, não provoca dor e é eficiente para salvar a vida de muito bebês, que podem correr o risco de ir embora para casa sem saber que têm uma doença que necessita intervenção o mais cedo possível. Esse foi o resultado de um estudo realizado pela Universidade de Birmingham e Birmingham Women´s Hospital, no Reino Unido.
O trabalho realizado pelos cientistas de Birmingham, publicado no jornal científico Lancet, envolveu 20.000 bebês aparentemente saudáveis de seis maternidades no Reino Unido. Todos foram rastreados, por meio de um oxímetro de pulso, para medir os níveis de oxigênio no sangue, colocado sobre a pele das mãos e dos pés. Aqueles com níveis mais baixos de oxigênio após o nascimento tinham mais risco de problemas no coração.
Dos 195 bebês que tiveram resultado anormal no teste, 26 apresentaram importantes problemas cardíacos congênitos e cerca de 46 outros problemas que necessitariam tratamentos urgentes. “Acredito que agora nós temos evidências o suficiente para dizer que o rastreio feito pela oximetria de pulso deveria ser incorporada todos os dias da prática clínica”, disse Andrew Ewer, um dos líderes do estudo.
Já não é a primeira vez que uma pesquisa analisa o benefício dessa prática nos bebês. Também este mês, um artigo publicado no Pediatrics, periódico da Sociedade Americana de Pediatria, reforçou a importância da oximetria para investigar problemas cardíacos no recém-nascido.
No Brasil, alguns hospitais já são adeptos desse tipo de monitorização, mas ainda não é uma prática exercida, apesar do baixo custo que esse teste demanda. “Usamos oximetria rotineiramente dentro das UTIs neonatais, mas, nos berçários, com os bebês aparentemente normais, apenas um ou outro hospital faz isso como rotina”, diz Renato Procianoy, presidente do departamento científico de neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e professor do Hospital das Clínicas, de Porto Alegre. Renato afirma, ainda, que, por enquanto, não há uma recomendação da Sociedade para o uso da oximetria com esse fim.
Se o exame é importante e todos os hospitais teriam condição de realizá-lo, por que, então, ainda não é feito em todos os bebês? “Qualquer prática para ser validada leva um tempo e precisa de muitos estudos até entrar como rotina. Acredito que à medida que a importância desse teste é comprovada, logo isso pode ser incorporado no Brasil”, diz Graziela Lopes del Bem, neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz (SP), onde a oximetria para rastreio de doenças cardíacas é aplicada em todos os recém-nascidos. Em torno de 12 horas de vida e 24 horas, os bebês passam pela análise de saturação do oxigênio no sangue. Quando ela fica abaixo de 95%, a indicação é para o bebê fazer um ecocardiograma para confirmar se existe cardiopatia congênita.
O especialista Renato faz uma ressalva: “Esse teste não detecta todas as doenças cardíacas. Apenas as mais graves”. Vale lembrar que, durante o pré-natal, o ecocardiograma fetal, que pode ser realizado entre a 18ª e 24ª semana, já é capaz também de indicar algum problema no coração do bebê. No entanto, considerando que o ecocardiograma fetal nem sempre faz parte dos exames solicitados pelo médico durante o pré-natal, a oximetria poderia salvar vidas.
Fontes: Alice Deutsch, neonatologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e Norberto Antônio Freddi, neonatologista do Hospital Santa Catarina (SP)
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