Pacientes com psoríase sofrem preconceito

A intenção podia ser fazer uma brincadeira, mas para a coordenadora de sistemas Caroline Diogo, de 29 anos, a lembrança é exemplo de um dos problemas enfrentados pelos portadores de psoríase (doença crônica e inflamatória da pele e outros tecidos, com causa desconhecida): o preconceito.

Em geral, quem sofre com essa inflamação passa por situações delicadas no cotidiano devido à aparência da área atingida. A região fica marcada por um “placa” vermelha, descamativa e com uma “casca” branca saliente. Tal aspecto chama atenção e faz com que as pessoas ao redor tenham receio de pegar a doença, apesar de a psoríase não ser contagiosa.

A dermatologista Érica Monteiro, da Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo), explica que os sinais cutâneos têm papel significativo na aparência. “Pessoas com doenças de pele como a psoríase ou vitiligo são vistas como se tivessem algum tipo de peste ou praga. Muitas vezes são segregadas ou tratadas com preconceito, o que provoca o risco de a pessoa entrar em depressão e acabar se isolando.”

Influência do estado emocional

A psoríase pode comprometer qualquer área cutânea, mas atinge principalmente os joelhos e cotovelos, podendo afetar também unhas e couro cabeludo. “Imagina para uma mulher vaidosa o quanto é duro passar por isso? Sem contar a vergonha de achar que as pessoas podem ter nojo de você ou acharem que você não é higiênica”, desabafa Carol, que descobriu a doença quando notou algo estranho na unha do dedo mindinho da mão direita. “Primeiro, ela soltou da carne e a pele começou a engrossar. Depois surgiram feridinhas nos joelhos, nos cotovelos, no couro cabeludo e na barriga. Fui ao dermatologista, fiz todos os exames para ver se tinha algum fundo bacteriológico, mas não. Então, fui diagnosticada com psoríase.”

A coordenadora lembra que o pior preconceito que enfrenta é o seu próprio. “No fim do ano passado, perdi bastante cabelo e todas as unhas caíram. Nessa época, fiquei mais reclusa, com vergonha”, lembra. Muitos pacientes com psoríase, assim como os que sofrem de vitiligo e acne conglobata, apresentam sintomas de depressão e alguns inclusive já pensaram em suicídio.

A psoríase, que surge principalmente antes dos 30 e após os 50 anos (apenas 15% dos casos aparecem ainda na infância), pode estar relacionada a fatores genéticos e ao estado emocional do paciente. Junto com traumatismos, o abuso crônico de álcool e a infecção por algumas bactérias, o estresse é um importante fator que influencia a manifestação da doença. Assim, o preconceito, além de causar danos psicológicos, pode afetar também o quadro clínico.

“As células que originam a pele e as que formam o sistema nervoso têm a mesma origem embrionária. Acreditamos que, por isso, exista uma ligação muito próxima entre as células da pele e as células nervosas. Observamos que muitas doenças da pele têm alguma relação com o estado emocional da pessoa. As alterações emocionais podem se manifestar em algum órgão do corpo, chamado de órgão de choque. A pele é um desses órgãos de choque e, certamente, sofre em função de oscilações emocionais”, explica a dermatologista Érica Monteiro.

Tratamento

Apesar de não haver cura para a psoríase, existem tratamentos que podem manter o paciente bem e estável por longos períodos, mas uma vez manifestada, a doença precisa ser tratada por toda a vida. Seguindo corretamente a terapia, é possível fazer com que os sintomas desapareçam por completo e diminuir a coceira e a dor, mas isso não anula a possibilidade de eles reaparecerem de tempos em tempos, especialmente no inverno, período em que a pele fica mais seca.

É importante utilizar medicação local, usar hidratantes e tomar banho de sol. Há no mercado farmacêutico algumas pomadas feitas à base de alcatrão que se mostraram eficientes no controle da doença, medicação via oral e intravenosa. Carol utiliza xampu especial, medicamento via oral e aplicação de corticoide (somente quando a doença se manifesta). O último deve ser usado uma ou duas vezes por dia e por pouco tempo, em quantidade apenas suficiente para limpar a região, sendo necessário seguir corretamente a recomendação do médico. O tratamento, que começa a fazer efeito em uma semana, deve ser acompanhado por um dermatologista.

Os casos de psoríase não são todos iguais, por isso é indispensável consultar um dermatologista. “Devido à possibilidade de variação genética, existe variabilidade de resposta à terapia medicamentosa. Deve-se adequar cada caso às opções terapêuticas disponíveis no mercado, a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com psoríase”, diz Monteiro.

Além dos tratamentos específicos para doença, em alguns casos é recomendável buscar terapia com psicólogo para ajudar a controlar o desgaste emocional causado pela insatisfação com a aparência.

Fonte: Site Dr. Dráuzio Varella
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