Lipoaspiração: os riscos por trás da silhueta perfeita
A dançarina Pâmela Baris exibia um corpo escultural e com medidas muito bem distribuídas em seus 1,70 de altura. Eram 93cm de busto, 67cm de cintura e 102cm de quadril. Proporções cobiçadas por qualquer mulher, mas que para ela ainda formavam um conjunto imperfeito.
Vaidosa, a catarinense de 27 anos buscou aperfeiçoar ainda mais suas curvas por meio de lipoaspiração, cirurgia plástica capaz de retirar gordura localizada. Era a terceira vez que a estudante de biomedicina e ex-assistente de palco em programas de televisão passava por uma lipo. Mas, dessa vez, durante o processo cirúrgico, seu fígado foi perfurado. Ela perdeu muito sangue, sofreu uma parada cardiorrespiratória e acabou morrendo ainda na mesa de cirurgia.
Não são infrequentes os casos de morte decorrente da lipoaspiração. Ouvem-se muitas histórias de parada cardíaca ou reações adversas a anestésicos. Contudo, para o dr. Felipe Coutinho, diretor da regional paulistana da SBPC (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), o problema que ocorreu com a modelo, classificado como perfuração de víscera, não é um risco pré-definido da cirurgia, como os citados há pouco, e sim um acidente. “É muito difícil isso ocorrer, é uma exceção. Geralmente a tendência é direcionar a culpa para o profissional, enquanto o certo e justo é investigar o que aconteceu. Inicialmente, ninguém sabe. A paciente poderia ter hérnia ou fraqueza abdominal, o que facilitaria a entrada mais profunda da cânula e poderia levar a atingir alguma víscera.”
O número de mortes em lipoaspirações é baixo. Segundo dados da FDA (Food and Drugs Administration – vigilância sanitária americana), são esperadas 3 mortes a cada 100 mil cirurgias de lipo. Dr. Dênis Calazans, secretário geral da SBPC, explica que a lipoaspiração não apresenta índices científicos e estatísticos de risco diferentes das demais cirurgias. Ainda assim, alerta para as complicações que a cirurgia pode causar. “Podemos elencar embolia gordurosa (oclusão de pequenos vasos por gotículas de gordura), seroma (excesso de líquido que fica retido próximo à cicatriz cirúrgica, causando inflamação), hematomas, irregularidades de relevo cutâneo, infecção, entre outros.”
A era da lipo
Apesar de ainda não se saber exatamente os motivos do acidente com Pâmela, a morte da dançarina alerta para algo importante: é necessário ter atenção na hora de escolher a clínica e o profissional que vai fazer a operação. “É preciso inicialmente saber se o médico é cirurgião plástico, com seis anos de Faculdade de Medicina, mais dois anos de residência em cirurgia geral e três anos de residência em cirurgia plástica, com título de especialista registrado no CRM (Conselho Regional de Medicina) e membro da SBCP. É recomendável que se obtenham referências do médico e local por meio de informações de outros pacientes que já tenham sido operados por ele. A consulta médica e a relação de confiança que se estabelece por meio de informações mútuas são um forte aliado da segurança cirúrgica”, ressalta Calazans.
A lipoaspiração é a segunda cirurgia plástica mais realizada no Brasil, ficando atrás somente do implante de silicone nas mamas. Em média, os custos da cirurgia variam entre R$1.800 a R$4.500, dependendo da região onde é feita. Não é uma operação barata, mas das 700 mil plásticas estéticas feitas anualmente no País, 140 mil são lipos. O número alto se deve, em parte, à grande quantidade de clínicas estéticas que realizam a cirurgia por preços bem baixos e com parcelamentos atraentes.
Para Calazans, tais clínicas são “verdadeiras arapucas a que o paciente desavisado e desconhecedor dos riscos se entrega acreditando estar se submetendo um serviço eficaz e seguro. Geralmente, essas empresas priorizam o lucro e não o trabalho médico. São clínicas que se apresentam na internet com publicidade ostensiva, recrutam médicos pouco ou nada preparados nem habilitados, onde muitas vezes o paciente é assistido por um profissional e operado por outro que nunca viu. As reclamações e processos em face desse tipo de clínica se avolumam nos Conselhos Regionais de Medicina.”
Antes, durante e após a cirurgia
A lipo é uma técnica para retirar o excesso de gordura localizada por meio de sucção feita com uma fina cânula introduzida na camada subcutânea gordurosa. Essa cânula é ligada a um aparelho que suga de maneira controlada o tecido adiposo.
Antes de a sucção começar, é preciso que a região a ser operada seja infiltrada com uma solução de soro fisiológico e substâncias vasoativas que têm a finalidade de promover a vasoconstricção (processo de contração dos vasos sanguíneos) no local, visando diminuir a perda sanguínea e promover a retirada mais fácil da gordura.
Não existe um tempo preciso ou determinado para a realização do procedimento. “A duração varia de acordo com as áreas a serem tratadas, a habilidade da equipe médica, o grau de dificuldade técnica próprio de cada paciente. Não obstante, é cientificamente sabido que a ocorrência de complicações cirúrgicas obedece a uma proporcionalidade de tempo: procedimentos cirúrgicos muito longos tendem a um aumento exponencial dos riscos”, explica Calazans.
Como em toda e qualquer cirurgia, também é necessário preparo antes do procedimento. O paciente precisa marcar uma consulta prévia para diagnóstico e realizar alguns exames pré-operatórios, como hemograma, coagulograma e avaliação cardiológica. Algumas doenças ou situações podem impedir o procedimento, como uma simples gripe, alergias, hipertensão e outros problemas cardíacos. Além disso, pessoas que estão bem acima do peso e apresentam excesso de gordura não devem ser submetidas ao processo, assim como pacientes com mais de 60 anos, pois a idade avançada traz perda da elasticidade da pele (colágeno e elastina), o que facilita a entrada da cânula e pode resultar em perfuração de uma víscera, sem contar que a retirada da gordura (que mantém a pele um pouco mais esticada) vai deixar o corpo mais flácido.
Para quem tem pressa e espera sair da sala da cirurgia com a silhueta enxuta, uma má notícia: nenhum procedimento cirúrgico estético, incluindo a lipoaspiração, mostra resultado imediato. Após a lipo, a região operada tende a ficar inchada. Para ver o resultado, é preciso esperar a região se recuperar. Em geral, somente após o segundo ou terceiro mês de pós-operatório é possível observar uma sensível redução do edema (inchaço) e, consequentemente, ter uma ideia do resultado. Contudo, o resultado definitivo se evidencia apenas seis meses após a cirurgia.
A recuperação não é mais ou menos complexa do que a de outro procedimento. Na verdade, é igual. Como a cirurgia requer incisões mínimas, de um centímetro, para inserir a cânula, os pontos são pequenos, o que facilita a recuperação. Recomendam-se tratamentos fisioterápicos complementares no pós-operatório, como drenagens linfáticas, a fim de minimizar os efeitos do edema e favorecer a cicatrização da região operada. Além disso, especialistas sugerem o uso de cintas modeladoras por, no mínimo, um mês, para ajudar a dar firmeza à pele.
Condições para se submeter à cirurgia
Apesar de ter virado moda entre aqueles que exigem um corpo mais esguio, tanto Calazans como Coutinho reafirmam que a lipoaspiração não é um método de emagrecimento. “Ela deve ser empregada para tratamento de áreas de depósito de gordura que sejam resistentes a tratamentos prévios de redução de peso e atividade física. Geralmente são áreas em que o depósito se faz por fatores genéticos. A indicação segue também um desejo do paciente e a avaliação detalhada e minuciosa de um cirurgião plástico”, explica Calazans. Sem contar que a quantidade de gordura máxima que pode ser retirada na operação é 7% do peso corporal, não mais que isso.
Lembrando que a cirurgia só deve ser feita após os 18 anos. Não é recomendada a lipoaspiração para adolescentes, por uma série de fatores. Um deles é o fato de o metabolismo jovem favorecer a redução de gordura em determinadas áreas do corpo mediante disciplina alimentar e atividades físicas. “O que notamos com grande preocupação é a procura pela lipoaspiração quase como resultado de um modismo da ‘forma física ideal’, que deve ser conquistada rapidamente. Isso é sempre contraindicado, uma vez que a lipoaspiração é um tratamento médico, e por isso deve ser encarado como alternativa radical”, afirma Calazans.
Lipoaspiração X Lipoescultura
Muito se ouve falar também da lipoescultura. Para as mulheres mais atentas as novidades do mercado da estética, ela é vista como uma maneira de esculpir o corpo humano. Só que para Calazans, essa técnica se assemelha mais a um incremento de marketing. “Criaram-se nomenclaturas e definições com o intuito de minimizar riscos inerentes a um tratamento específico, que é a lipoaspiração. Isso gera no leigo uma falsa ilusão.” Para o cirurgião, a “lipoescultura” nada mais é do que o lipoenxerto, técnica de retirada da gordura de determinada área corporal e injeção desta em outra parte do corpo, com objetivo de dar volume.
Fonte: Site Dr. Dráuzio Varella
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