A corrida pela medicina personalizada

The New York Times*

Centros de pesquisa de câncer disputam por espaço para mapear genes de pacientes e avançar em direção a tratamentos mais precisos. (Foto: Corbis)

Centros de pesquisa de câncer disputam por espaço para mapear genes de pacientes e avançar em direção a tratamentos mais precisos. (Foto: Corbis)

Ventiladores elétricos rosnavam como se fossem aviões em decolagem e luzes verdes piscavam em um porão da Escola de Medicina Monte Sinai, Nova York, onde um novo supercomputador de US$3 milhões reunia rapidamente grandes quantidades de informação genética e biológica.

Há poucos quilômetros de distância, as concorrentes Faculdade Weill Cornell e o Hospital Presbiteriano de Nova York construiam um centro de pesquisa de US$ 650 milhões.

Do outro lado da rua, estava um recém concluído centro de pesquisa de U$ 550 milhões que servirá de base para outro concorrente, o Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering.

Grandes centros médicos acadêmicos em Nova York e em todos os Estados Unidos estão gastando e recrutando pesadamente no que se tornou uma disputa na guerra contra o câncer. Os investimentos são baseados na crença de que o estabelecimento médico está se movendo em direção ao sequenciamento do genoma de cada paciente na busca de “medicina de precisão”, uma trajetória para a prevenção e tratamento baseado nas mesmas características especiais e únicas dos genes do paciente.

Entre outros projetos, a Escola de Medicina de Harvard tem o seu Núcleo de Informática Biomédica, que entre uma ampla gama de abordagens utiliza modelos matemáticos para prever quando a informação genética pode levar a um tratamento mais eficaz. O Hospital de Crianças de Phoenix inaugurou o Instituto Ronald A. Matricaria de Medicina Molecular, em dezembro, recrutando investigadores de Los Angeles e Baltimore e planejando sequenciar os genomas de 30 % de seus pacientes de câncer infantil em sua busca de melhores terapias.

Johns Hopkins, com seu foco na saúde pública, pretende desenvolver um “programa de sequenciamento genômico sistemático” durante os próximos dois anos, que combinará análise genômica com a exposição de um paciente a um certo ambiente, histórico familiar e outros fatores para apoiar a medicina preventiva, disse Scott Zeger, vice-reitor da investigação.

Hoje, o sequenciamento de um genoma por completo custa em torno de US $ 5.000 a US $ 10.000, sem incluir a interpretação das informações. Geralmente não é reembolsado pelo seguro, que talvez seja mais provável que cubra os testes para mutações genéticas que são conhecidas por serem sensíveis a medicamentos. Os próprios tratamentos, que às vezes são cobertos, normalmente custam várias vezes esse valor.

Até mesmo os mais otimistas alertam que a medicina ainda está longe de derivar informações úteis a partir do sequenciamento de rotina dos genomas, levantando questões a respeito do valor social de todo esse investimento em um momento em que existe uma intensa pressão fiscal sendo exercida sobre o sistema de saúde.

O Hospital Presbiteriano de Nova York / Weill Cornell anunciou um novo Instituto de Medicina de Precisão, liderada por um especialista em câncer de próstata, em janeiro. (O termo “medicina de precisão” é uma versão atualizada de outro jargão genômico, “medicina personalizada”.)

A disputa não significa apenas investimento na construção de centros e aquisição de tecnologia, mas também em recrutamento, salários e incentivos para cientistas como Lewis Cantley do Hospital Weill Cornell, que era da Harvard e Eric E. Schadt, que foi recrutado do mundo da biotecnologia para liderar a equipe do Instituto do Genoma e Biologia Multiescalar do Monte Sinai.

No Monte Sinai, Schadt, 48, um aficionado por esportes radicais que dirige uma moto BMW S 1000 RR, disse que irá utilizar os princípios matemáticos de previsão de tempo e mercados financeiros para avaliar o risco de doença, e, dada uma doença, determinar seu subtipo e os melhores medicamentos a serem utilizados.

Monte Sinai reuniu o que chama de um “biobanco” eletrônico de informações sobre 24,000 pacientes, que concordaram em participar do sequenciamento de DNA e de participarem de constante pesquisas durante o resto de suas vidas.

Algumas dessas informações serão colocadas no supercomputador, que é chamado de Minerva, a deusa romana da sabedoria. Armazenamento de dados por si só é um desafio: um genoma ocupa 300 gigabytes de dados brutos por amostra de cada paciente.

A supervisora do Minerva é Patricia Kovatch, 44, uma engenheira de computação que liderou a equipe que construiu o Kraken, o terceiro computador mais rápido do mundo, em 2009, enquanto trabalhava para a Universidade do Tennessee, no Laboratório Nacional de Oak Ridge.

Tantas pessoas estão sendo contratadas para medicina personalizada no Monte Sinai, disse ela, que “parece que estamos trabalhando em uma startup.”

Através da criação de uma infra-estrutura adequada – a colheita e sequenciamento de DNA do paciente, identificando os pacientes que poderiam se beneficiar de um determinado medicamento e recrutar agressivamente pacientes para ensaios – os centros médicos acadêmicos esperam desempenhar um papel maior no desenvolvimento de novos medicamentos, o que poderia levar a lucrativos royalties de patentes.

“As empresas farmacêuticas precisam da experiência dos centros médicos acadêmicos, elas precisam da participação de nossos grupos de pacientes”, disse Dennis Charney, reitor da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai.

Esses grupos poderiam incluir pacientes como Kieran P. Holohan, um advogado de 45 anos de idade que foi diagnosticado com leucemia mielóide aguda em 2009. Depois de sua quimioterapia e remissão da doença, seu médico lhe disse para que fizesse um transplante de medula óssea para prolongar a remissão. Um amigo de seu clube de rugby, um geneticista, lhe disse que “isso tem muito a ver com cromossomos”, lembrou ele, e sugeriu que entrasse em contato com uma médica do Hospital Weill Cornell, Gail J. Roboz.

Um teste de laboratório relativamente novo na medicina descobriu que a leucemia de Holohan tinha uma mutação que fazia com que suas chances de sobrevivência não fossem necessariamente melhorar com o transplante. Assim, ele optou por mais quimioterapia e seu câncer ainda está em remissão.

James M. Crawford, presidente de patologia na Hofstra North Shore-LIJ School of Medicine, disse que sua instituição, uma concorrente em alguns aspectos com os centros médicos de Manhattan, estava “literalmente em cima do muro” sobre a possibilidade de participar da disputa ou “esperar com que mais dados surjam antes de decidirmos que iremos dedicar mais recursos para isso.”

“Qual é a utilidade final desta medicina personalizada?”, ele perguntou.

“Como uma profissão da medicina, mas também como uma sociedade, nós ainda não conseguimos responder essa pergunta.”

* Por Anemona Hartocollis

Fonte: IG.com
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