Seis milhões de brasileiras têm endometriose mas não conhecem o problema

A endometriose é responsável por 40% dos casos de infertilidade no país, mas apenas um terço das brasileiras associa a doença à dificuldade de engravidar, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva. O levantamento, feito com cinco mil mulheres com mais de 18 anos no país, revelou ainda que 88% não sabem como tratar o problema e que 55% não sabem sequer o que é a doença.

A doença é caracterizada pela presença do endométrio – tecido que reveste o interior do útero – em outros órgãos, como trompas, ovários, intestinos e bexiga. A endometriose lidera as causas de infertilidade entre mulheres acima dos 25 anos, sendo possível que aproximadamente de 30% a 40% das mulheres inférteis tenham algum grau de endometriose. A doença tem tratamento, mas não tem cura e costuma regredir na menopausa, segundo ginecologistas.

Os sintomas da endometriose podem variar de acordo com cada pessoa. Cólicas menstruais intensas e dores durante a menstruação, ao urinar, evacuar e também durante as relações sexuais. O sangramento menstrual costuma ser intenso ou irregular. Hoje, cerca de seis milhões de brasileiras têm a doença, sendo que até 50% delas podem ficar inférteis. O diagnóstico costuma ocorrer por volta dos 30 anos.

No entanto, o tempo entre o surgimento dos sintomas até a descoberta da doença costuma levar sete anos, alerta o ginecologista Maurício Abrão, presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) e professor da Faculdade de Medicina da Usp.

— Em pessoas mais jovens, este tempo pode chegar a 12 anos — diz Abrão.

A pesquisa ouviu mulheres em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Belo Horizonte, Manaus, Fortaleza, Curitiba e Salvador. Outros aspectos sobre a percepção da mulher brasileira para um problema comum e sério diz respeito à forma de tratar: 88% delas desconhecem as opções de tratamento para a doença.

Hoje, a cirurgia costuma ser frequente em mulheres que sofrem com este mal. Porém, segundo o ginecologista Carlos Alberto Petta, professor da Unicamp, diretor do Centro de Reprodução Humana Sírio-Libanês e membro da Fundação Mundial de Pesquisas em Endometriose, há casos em que a paciente é submetida a três e até oito intervenções cirúrgicas.

A Anvisa aprovou um novo medicamento oral para tratar a dor pélvica associada à endometriose, à base de um prgestenio (composto sintético com efeito similar ao da progesterona) chamado dienogeste, que suprime os efeitos do hormônio estradiol no endométrio.

— O limite de uso é se ocorrer alguma contra-indicação. É praticamento uso contínuo. Nota-se uma redução da dor do primeiro para o segundo mês. No sexto mês de tratamento, geralmente tem a observação real do benefício do tratamento — explica o ginecologista Carlos Alberto Petta.

Antes, lembra o médico, existiram outros tratamentos, mas com efeitos colaterais indesejáveis, como ganho de peso, perda de massa óssea e até sintomas de menopausa.

— Os próprios médicos começaram a mudar as formas de tratar e indicavam uso contínuo de pílula. Porém, ela não impedia que a doença progredisse. Quando existe a infertilidade, não adianta um tratamento clínico. Se ela tem endometriose e infertilidade, a conduta correta são cirurgia ou tratamentos como inseminação artificial e fertilização in vitro. Não se prescreve medicamento —explica Petta.

— O tratamento medicamentoso é para dor. Mas ela pode interromper o tratamento medicamentoso da endometriose e engravidar cerca de dois meses após suspender o uso, se não for infértil — esclarece o médico alemão Thomas Faustman, chefe da área global para assuntos da mulher da Bayer, em Berlim.

— É importante as mulheres conhecerem mais sobre os sintomas da endometriose, em vez de apenas ficarem pensando que a dor pélvica é ‘normal’. Elas precisam saber que a dor da endometriose é real e pode ser tratada — reforça Abrão.

De acordo com a ONU (Organizações das Nações Unidas), a endometriose afeta 176 milhões de mulheres no mundo. Na pesquisa (mesmo as mulheres que não conheciam a doença), quando perguntadas sobre os tipos de tratamento, as entrevistadas responderam: cirurgia por laparoscopia (25%), uso de antinflamatórios (24%), cirurgia para a retirada dos ovários (20%), uso de anticoncepcionais (14%), uso de DIU hormonal (12%) e laqueadura (5%).

Os orgasmos são menos frequentes em mulheres com endometriose, afirma Francisco Carmona, membro da Sociedade Europeia de Ginecologia Endoscópica e chefe do serfviço de ginecologia do Hospital de Barcelona, na Espanha.

— Infelizmente, falta investigação sobre como o tratamento interfere na vida sexual das mulheres — diz Carmona.

O diretor médico da Huntington Medicina Reprodutiva, Márcio Coslovsky, lembra que há mulheres com a doença que engravidam normalmente.

— Outras podem ter dificuldade, com diferentes graus de intensidade. Há tratamentos que solucionam o problema tranqüiliza o especialista.

Fonte: Extra On Line
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